Hoje eu acordei índio
Olhos de índio, jeito de índio.
Sangue de índio.
Alma de índio.
Curumim, ar infantil, sereno.
Leve, podia voar.
Acocorado nas árvores.
Olhei a graúna, o canário, uirapuru
Cheiro de terra e urucum
Olhar perdido no céu
Completamente nu
Nu dos meus ódios
Liberto dos egoísmos
Despido de antigos conceitos
Descoberto de preconceitos
Desnudo de ansiedades
Sentia tudo diverso.
Exposto, peito aberto
Descalço.
Pés tocando o chão.
Banho de rio.
Lavado, limpo, purificado.
Aimoré,
Taurepangue,
Nhambiquara,
Crenaque,
Tupiniquim,
Avá-canoeiro
Pleno de todas as nações.
Índio, eu era um e todos
Solidário, humilde, altivo, orgulhoso.
Não era cacique
Nem pajé
Apenas índio
Sem poder
Sem terra
Sem oca nem maloca
Sem respeito do branco
Catequizado, abandonado.
Pedinte nas estradas
Marginalizado nas cidades
Infectado e desprezado.
Mameluco, cafuzo, confuso
Apenas índio.
Como todos os índios do Brasil.
Hoje eu acordei índio.
Era apenas um sonho
Acho que continuo branco.
por Giba Ribeiro
fonte e imagem: http://garibei.blogspot.com/
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