Os papéis da mulher – por Rosely Sayão
fevereiro/2007
De vez em quando, fico pensando se estamos mesmo no ano de 2007 ou se é ilusão virtual o mundo em que vivemos.
Isso acontece principalmente quando constato que, em pleno século 21, os preconceitos e estereótipos em relação à mulher e sua imagem na sociedade ainda valem e são expressos com a maior naturalidade.
Na semana passada, por exemplo, a discussão da hora foi a respeito do uso e abuso da figura feminina nas publicidades de marcas de cerveja.
Pensando bem, a situação em que vive a mulher atualmente está cheia de contradições. Por um lado, não há dúvida de que sua vida melhorou visivelmente em alguns aspectos.
Ela pode se dedicar ao trabalho e ao seu desenvolvimento profissional, tem acesso ao estudo, pode escolher se quer casar e constituir família ou não, consegue alcançar independência financeira, tem condições de viver sozinha, pode participar ativamente da vida política do país e as tarefas domésticas não são consideradas sua responsabilidade exclusiva.
Por outro lado, algumas circunstâncias denunciam que ela ainda não tem total autonomia para administrar sua vida e tomar os cuidados necessários para garantir sua integridade física, emocional e psíquica, sua dignidade, enfim, principalmente quando consideramos a vida privada.
O aumento da incidência da infecção pelo vírus HIV nas mulheres, índice que quase se equiparou ao dos homens, e o crescimento da violência, principalmente da doméstica, são apenas dois sinais que indicam que a vida privada das mulheres não anda um mar de rosas.
Mas que coisa, não? Quem diria que quem se mostra tão forte na vida pública e realiza tantas conquistas apresentaria tal fragilidade quando o que está em jogo são as emoções, o relacionamento sexual e afetivo, a vida a dois? Por quê?
Temos algumas pistas que podem nos ajudar a entender tal paradoxo e vou tratar de uma delas. Por incrível que pareça, as mulheres ainda recebem uma educação absolutamente machista e é por ela que são introduzidas na vida sociocultural.
E essa constatação torna-se mais espantosa quando nos damos conta de que a principal responsável pela educação familiar continua sendo a mãe e de que a educação escolar é praticada também por uma maioria esmagadora de mulheres.
Será que as mulheres transmitem preconceitos de gênero aos mais novos porque se sentem inferiores aos homens e porque não conseguiram se livrar dessa história?
Pode ser. Afinal, por que a mulher tem receio de falar abertamente com seu companheiro sobre os cuidados que devem ser tomados na intimidade sexual para evitar a infecção por doenças sexualmente transmissíveis?
Solicitar e até mesmo exigir o uso do preservativo ou firmar pacto de fidelidade nas relações estáveis, por exemplo, ainda são questões tratadas com muita dificuldade por homens e mulheres.
Além disso, as mulheres continuam fazendo o maior esforço para tentar se encaixar num modelo idealizado construído para elas.
Já houve o tempo em que esse modelo consistia em ser especialista em prendas domésticas. Hoje, quando nossa cultura privilegia as imagens, o modelo para a mulher tem a ver com sua aparência: corpo, vestimentas, gestual. Aqui, voltamos à publicidade de marcas de cerveja.
A mulher, com seu corpo "gostoso", usada como isca para o homem, talvez seja o retrato mais fiel e cruel da ativa participação feminina na manutenção do modelo preconceituoso e machista da submissão ao homem.
Pode parecer que é muito distante a relação desse tipo de publicidade com as dificuldades que as mulheres enfrentam nos tempos atuais, mas a proximidade é bem maior do que gostaríamos que fosse.
As famílias não podem deixar de considerar importante a questão de gênero ao educar seus filhos e as escolas não podem ignorar, como costumam, tema tão pertinente com a questão da cidadania e dos valores democráticos.
ROSELY SAYÃO
é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Um comentário:
Oi Leila..... vi morangos vermelhos, li o testo Os papéis da mulher – por Rosely Sayão, sem duvida .... só podemos concordar, o q e triste ter q aceitar , que um assunto tão antigo e tão de nosso interesse, ainda esteja só em palavras e longe de ser posto em pratica, por milhares e milhares de mulheres de todas as classes.
É ai q esta o nó da questão , teríamos q falar da ignorância, da vaidade... pois ser forte e autoritária quando necessário, deixa a mulher masculinizada, é assim que a vêem se ela for forte. Mudar uma nação, ou o mundo, demora séculos, mas pr isto teimamos q eliminar de dentro de nos as pedrinhas primarias, partindo da escola, família e porque não meninos e meninas sendo incentivados a brincar juntos e saberem admirarem as qualidades uns dos outros, eliminando a idéia competição, aprendo na família e na escola, que a colaboração entre as partes sempre fortalece e todos, quem sabe assim um dia chegaremos lá
um enorme abraço, Monica
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