Minha sugestão: conheça o MADREDEUS...
A PROPOSTA ARTÍSTICA E MUSICAL DO MADREDEUS
"Tudo o que já tem tempo leva tempo a compreender". Assim descreveu Pedro Ayres Magalhães, nas palavras que abrem o encarte do primeiro álbum do grupo, "OS DIAS DA MADREDEUS", o encantamento que se sente ao ouvir, pela primeira vez, o som único e mágico do MadreDeus.
O grupo surgiu em 1986, da união dos talentos musicais de Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães, músicos já conhecidos no cenário pop musical de Portugal e que se juntavam com a proposta de criar uma nova sonoridade que resgatasse o antigo e o tradicional de sua terra através de uma leitura contemporânea.
A princípio, buscaram uma voz feminina que pudesse servir de arauto das idéias do grupo, e surgiu Teresa Salgueiro, uma jovem menina de dezessete anos, de voz maviosa e que se tornaria uma das referências sonoras do grupo.
A entrada de Teresa transformou a idéia original de Pedro e Rodrigo, e é o próprio Pedro Ayres Magalhães quem descreve o fato: "A voz de Teresa passou a ser a nossa mais imprevisível inspiração". Assim sendo, com a voz de Teresa a motivá-los a experimentar mais e mais, e com a chegada ao grupo do violoncelista Francisco Ribeiro e do acordeonista Gabriel Gomes, o grupo tomou forma e lançou, timidamente, em 1987, "OS DIAS DA MADREDEUS", o primeiro álbum do grupo, com quinze belas peças que se dividiam entre canções e peças instrumentais.
O álbum tornou-se sucesso imediato em Portugal, ganhando as ruas e casas de espetáculo em vários recantos daquele país e, sendo Portugal um país de tantos emigrantes, em pouco tempo MadreDeus tornou-se uma referência da nova música portuguesa também em terras de além-mar.
O que motivou tão rápida e surpreendente ascenção de um grupo que, em plena era da música eletrônica, propunha-se a fazer um trabalho acústico e de resgate cultural foi, sobretudo, a forma única como as palavras suavemente emitidas por Teresa encaixavam-se com aquela formação nada usual de violoncelo, acordeão, sintetizador e violão.
Mas, mais que isto, a música e as palavras todas estavam impregnadas da emoção portuguesa, da saudade e da nostalgia do fado, das juras de amor e da suavidade tão características da poesia em língua portuguesa. Esta, aliás, foi muitas vezes a resposta de alguns integrantes do grupo quando indagados sobre qual era a proposta do grupo: mostrar a sonoridade única da palavra cantada e, mais que isto, a beleza das palavras em língua portuguesa.
Através deste resgate da língua portuguesa como forma de expressão musical, o MadreDeus buscava, também, o resgate do orgulho de ser português, como afirmou Pedro Ayres Magalhães: "As nossas cidades de um bulicío discreto e sempre muito solitário e a cara resignada, às vezes sorridente, daqueles com que nos cruzamos na rua, teriam que ficar bem com essas melodias de fundo".
Decerto estas palavras escritas quando do início do grupo talvez já não descrevam fielmente o sentimento dos atuais integrantes do grupo, mas hoje o MadreDeus está de tal modo vinculado à imagem que muitos de nós fazemos de Portugal que talvez possamos ousar em dizer que as cidades e gente de Portugal --- com o tempo, a voz calmíssima de Teresa e a beleza das melodias do grupo --- tenham, aos poucos, adequado-se à maravilhosa música do MadreDeus...
Hoje o grupo tem uma carreira internacional já firmada e o último álbum de estúdio, "O Paraíso", mereceu a atenção e o aplauso de crítica e público em todo o mundo. Mas a proposta do grupo permanece a mesma.
Pedro Ayres Magalhães assim descreve a visão do grupo sobre a música que fazem: "O nosso lema (ao compor e fazer "O Paraíso") foi: EVITAR A SOLUÇÃO FINAL". Há que se entender estas palavras ao ouvir-se e ouvir-se as canções do MadreDeus: elas crescem em nós a cada instante, e a cada vez que ouvimos, algo de novo surge em cada canção, em cada nota musical, em cada palavra...
Poucos grupos musicais no mundo podem ostentar tal talento.
DISCOGRAFIA:
Os Dias da Madredeus (1987)
O primeiro álbum do grupo foi lançado quando ainda sequer um nome havia sido escolhido para aquele encontro de músicos oriundos de diversas formações musicais e de outras bandas de renome no cenário musical português. O álbum ganhou este nome pois foi nas instalações da Companhia do Teatro Ibérico (em verdade, a antiga igreja do Convento de Xabregas), no bairro lisboeta da Madre de Deus, que se realizaram os ensaios e encontros que se transformariam em um 'LP' duplo gravado entre os dias 28 e 30 de julho de 1987 naquele mesmo local, 'en ensemble'. O 'LP' foi logo em seguida lançado em CD. Aquela formação inusitada de violoncelo, acordeão, violão clássico e sintetizadores, unidos em torno da voz maviosa de uma jovem desconhecida de apenas dezessete anos encantou os portugueses e levou o grupo a empreender uma turnê pelo país, apresentando em lugares inusitados, como igrejas e praças públicas, aquela música inovadora que dialogava com a tradição portuguesa sem se render a qualquer rótulo de música folclórica ou fadista. (Destaque: 'A Vaca de Fogo')"
Existir (1990)
"O sucesso da banda com o primeiro álbum levou-os a uma inusitada incursão à Itália, onde se apresentaram em um festival estudantil em Bolonha. Dessa experiência e dos momentos vividos após o lançamento de 'Os Dias da Madredeus', o grupo lançou este que é seu segundo álbum.
Lisboa (ao vivo - 1992)
"Gravação feita ao vivo no Coliseu dos Recreios de Lisboa, em 30 de abril de 1991, este álbum duplo registra o entusiasmo com que as platéias lusitanas acolheram o grupo desde o início de sua carreira.
O Espírito da Paz (1994)
"Talvez o mais coeso trabalho do grupo, 'O Espírito da Paz' é quase programático - sua organização é como a de uma grande sinfonia, na qual cada tema funciona como um movimento.
Ainda (1995)
"Wim Wenders foi contatado pela prefeitura de Lisboa para realizar um documentário alusivo aos cem anos do cinema em Portugal. Para tal, o diretor alemão solicitou que lhe fossem enviados CDs de música portuguesa para que ele escolhesse alguns temas para a trilha sonora e, ao ouvir 'Os Dias da Madredeus' e 'Existir', Wenders entrou em contato com o Madredeus para obter permissão para usar algumas das canções. O que ele recebeu, contudo, foi 'Ainda', um álbum de canções inéditas unidas por um campo metafórico que as aproximava - a cidade de Lisboa. O cineasta, entusiasmado, mudou todos os planos e escreveu 'O Céu de Lisboa', uma comédia misteriosa que tem o grupo Madredeus como um dos protagonistas.
O Paraiso (1997)
"Em 1993, o grupo começou a sofrer algumas mudanças: saiu o tecladista Rodrigo Leão, para iniciar carreira solo, e entrou o competentíssimo Carlos Maria Trindade; além disso, somou-se ao grupo José Peixoto, um dos mais requisitados violonistas de Portugal, tornando-se o grupo um sexteto por pelo menos dois álbuns. Em 1996, o violoncelo de Francisco Ribeiro e o acordeão de Gabriel Gomes saíram também do grupo, dando lugar ao baixo acústico de Fernando Júdice.
O Porto (1999)
"Seis anos depois da primeira gravação ao vivo, em Lisboa, o Madredeus fez sua homenagem à cidade do Porto com o lançamento deste álbum duplo que leva o nome da bela cidade de seu amigo Sérgio Freitas.
Antologia (2000)
"Quatorze anos de existência do Madredeus, já então consagrado como o grupo português de maior sucesso internacional de todos os tempos, motivaram o lançamento desta 'Antologia', que reúne temas de todos os álbuns anteriores mais dois inéditos.
Palavras Cantadas (2001)
"Aos que duvidam do sucesso do Madredeus no Brasil, há este 'Palavras Cantadas', uma coletânea de canções do grupo que abrangem o período de 1990 e 2001. O álbum foi lançado inicialmente apenas no Brasil (a seleção de repertório é da Som Livre Brasil) e só muitos anos depois chegou ao mercado internacional. O ano de lançamento coincide com a exibição, na Rede Globo, da minissérie 'Os Maias', cujo tema de abertura, 'O Pastor', abre também este álbum. "
Movimento (2001)
"Álbum de canções inéditas, 'Movimento' traz dezesseis temas que fariam longa carreira nos palcos e seriam, em seguida, revisitados nos dois trabalhos posteriores do grupo. Talvez o maior valor deste 'Movimento' para os fãs seja, justamente, a mostra de talento e de contemporaneidade do grupo, que experimenta novos ritmos e deixa transparecer as qualidades individuais de seus compositores.
Electronico (2002)
"Aos que começavam a se referir à música do Madredeus como 'coisa ultrapassada', o grupo respondeu com esta ousadia: um álbum apenas de releituras eletrônicas de suas canções. Eles convidaram alguns dos músicos eletrônicos de maior presítigo da Europa para 'remixar' e 'brincar' com temas de diversos álbuns.
Euforia (2002)
"O sonho antigo de Pedro Ayres Magalhães - unir a música do Madredeus a uma formação orquestral - está registrado neste álbum de 2002, em que a Flemish Radio Orquestra juntou-se aos músicos do grupo em um concerto gravado no dia 04 de abril de 2002, o qual renderia também um DVD, o primeiro do grupo.
Um Amor Infinito (2004)
"O título do álbum é também o da mais bela das canções deste trabalho: 'Um Amor Infinito', de letra simples e melodia envolvente, é uma daquelas canções de amor do Madredeus a rivalizar com 'Haja o que Houver' e 'O Pomar das Laranjeiras'. Mas o álbum é bem mais que isso: mostra um amadurecimento do grupo, que segue ousando em canções como 'Vislumbrar - o Canto Encantado' (em que Teresa Salgueiro canta e declama, em um diálogo fantástico!).
Faluas do Tejo (2005)
"Não se deixem enganar com esses doze meses de diferença que separam o lançamento deste álbum e de 'Um Amor Infinito': mais uma vez o Madredeus surpreendeu ao gravar temas suficientes para dois álbuns.
FILMOGRAFIA:
"O Céu de Lisboa" ('Lisbon Story', 1994, Portugal/Alemanha)
"O filme do diretor alemão Wim Wenders deu um novo impulso à carreira internacional do Madredeus. A produção teve sua origem intimamente ligada à música da banda portuguesa, pois o que era para ser um documentário encomendado pela prefeitura de Lisboa sobre a cidade transformou-se em um filme de ficção depois que os Madredeus responderam ao pedido do diretor de ceder alguns temas para a trilha sonora com um álbum inteiramente inédito, o 'Ainda'. Wenders escreveu o roteiro inspirado por essas canções e o Madredeus - sobretudo a vocalista Teresa Salgueiro - tornaram-se personagens relevantes na trama de um sonoplasta à procura de seu amigo cineasta desaparecido em Lisboa. A música do Madredeus tem um especial destaque no filme, já desde a cena inicial até às intervenções maiores do grupo em cenas que mostram ensaios da banda e que são um deleite para os fãs do Madredeus. Ainda que não seja um dos melhores filmes de Wenders, um cineasta que já brindou o público com obras primas como 'Asas do Desejo', o filme 'O Céu de Lisboa' é encantador, sobretudo para os fãs do Madredeus e os que tem alguma ligação maior com a cultura e o povo português."
O site
No site o Madredeus assume-se como uma viagem ao universo cênico e rítmico do grupo, em que o espírito lírico e poético latente na música serviu de base ao desenvolvimento da sua estrutura gráfica.
Tal como o seu repertório, que visa criar o interesse pela tradição do saudosismo Português, pela cultura da poesia, ao mesmo tempo que se propõe construir uma música de carisma universal capaz de ser entendida por qualquer público, seja português ou não, também os ícones visuais escolhidos pretendem reforçar todas essas idéias, funcionando como uma continuidade ao próprio grupo e aos ambientes cênicos dos seus concertos.