O RELÓGIO DO CORAÇÃO
Por Mário Quintana
Há tempos em nossa vida
que contam de forma diferente.
Há semanas que duraram
anos, como há anos que não contaram um dia.
Há paixões que foram
eternas, como há amigos que passaram céleres, apesar do calendário nos mostrar
que ficaram por anos em nossas agendas.
Há amores não realizados
que deixaram olhares de meses, e beijos não dados que até hoje esperam o
desfecho.
Há trabalhos que nos
tomaram décadas de nosso tempo na Terra, mas que nossa memória insiste em contá-los
como semanas.
E há casamentos que, ao
olhar para trás, mal preenchem os feriados da folhinha.
Há tristezas que nos
paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias difíceis, mal guardamos
lembrança de horas.
Há eventos que marcaram, e
que duram para sempre
o nascimento do filho, a
morte da avó, a viagem inesquecível, o êxtase do sonho realizado.
Estes têm a duração que
nos ensina o significado da palavra “eternidade”.
Já viajei para a mesma
cidade uma centena de vezes, e na maioria das vezes o tempo transcorrido foi o
mesmo.
Mas conforme meu espírito,
houve viagem que não teve fim até hoje, como há percurso que nem me lembro de
ter feito, tão feliz estava eu na ocasião.
O relógio do coração hoje
descubro, bate noutra freqüência daquele que carrego no pulso.
Marca um tempo diferente,
de emoções que perduram e que mostram o verdadeiro tempo da gente.
Por este relógio, velhice
é coisa de quem não conseguiu esticar o tempo que temos no mundo.
É olhar as rugas e não
perceber a maturidade.
É pensar antes naquilo que
não foi feito, ao invés de se alegrar e sorrir com as lembranças do que viveu.
Pense nisso. E consulte
sempre o relógio do coração: ele lhe mostrará o verdadeiro tempo do mundo.
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