SOBRE A VELHICE – Rubem Alves
Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético.
A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo.
A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs.
As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria.
Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs.
A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária.
No crepúsculo tomamos consciência do tempo.
Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel.
No crepúsculo as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente.
Ao sentir a passagem do tempo nós apercebemos que é preciso viver o momento intensamente.
Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia.
No crepúsculo sabemos que a noite está chegando.
Na velhice sabemos que a morte está chegando.
E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única.
(Trecho extraido do texto Quarto de badulaques (XV) publicado no Correio Popular, 29/09/2002).
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